Reflexões dos 40 anos
- Liana Castello
- 13 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Prestes a completar 40 anos, é inevitável que vez ou outra você se pegue pensando na vida, no que fez ou deixou de fazer, nas decisões que tomou e no rumo que deu aos seus sonhos. Não é como se fosse intencional, esses pensamentos só vêm, as memórias assaltam o seu dia e não há como fugir disso.

De toda forma, essas visitas inesperadas são um presente. Que podem vir, inclusive, no formato de sonhos (para quem tem o hábito de acompanhá-los). E é isso que tem acontecido comigo nos últimos dias. Novembro é sempre um mês de descobertas e é onde eu sinto que dou mais um salto. Sempre me renovo nesse mês de aniversário, mas é um renovar profundo mesmo, repleto daquele inspirar e expirar mais demorado como quem é, ao mesmo tempo, grato e devedor.
Definitivamente a minha vida valeu a pena. Todas as histórias, conquistas, tudo que produzi, estudei, todas as pessoas que conheci, todos a quem ajudei, toda espécie de trabalho que fiz, as formações e especializações que acumulei e a incalculável alegria do conhecimento de todos os livros que li e das grandes personalidades que admirei. Um brinde à multipotencialidade. Eu sou uma multipotência.
Definitivamente a minha vida (vale) valeu a pena, pela família que formei, especialmente pelo extraordinário ser humano de quem posso – muito honrada – dizer que sou mãe, e pelo íntegro e amoroso companheiro de caminhada, que da forma mais repentina e bem-humorada, se juntou a mim, para construirmos um existir que, infelizmente para os dias de hoje, é considerado utópico.
Sabe, se eu morresse aos 40 anos, mesmo considerando a vontade de ver meu filho crescer e constituir família, de ver minhas enteadas felizes e com sucesso na vida, de presenciar e cuidar da velhice dos meus pais e de ter a oportunidade de escutar suas histórias repetidas vezes... Mesmo nunca desejando deixar meu marido sem minhas “excessivas perguntas ao longo do dia”, sem a alegria – que sei que ele sente – de me ver feliz, simplesmente por mais um dia...
Mesmo sem querer deixar de prender os cabelos a cada meia hora, a pedido do meu afilhado, ou de ser o contato de Whatsapp mais próximo para quem meu irmão possa mandar uma mensagem aleatória perguntando coisas absurdas como: “Você acredita em energia?” só para me irritar... Mesmo com a certeza de que (independentemente de para onde iremos) eu sentirei saudades de tudo e todos... mesmo assim, eu me sentiria completa.
Eu iria com a rara sensação de missão cumprida, não apenas com as pessoas que passaram por mim, mas comigo mesma. Eu fiz o trabalho duro, eu lutei o bom combate, e senhores, “Ah que felicidade” eu sinto que venci. Venço todos os dias, e ao mesmo tempo que venço as sombras - que todos carregamos -, eu as integro e aprendo com elas.
É claro que eu nem preciso dizer que, errei, falhei miseravelmente em vários aspectos e nem sempre pensei ou agi da forma mais cristã que poderia. E talvez esse nem sempre, seja maior do que as vezes em que agi. Entretanto, mesmo nas ocasiões em que perdi uma batalha, o coração estava verdadeiramente inclinado a fazer o bem, "o certo" e preenchido daquele “sopro divino” que é a bússola que todos nós carregamos para saber como voltar para casa. E os valores pessoais nunca mudaram (e que orgulho dos plantadeiros – pai e mãe – que me ensinaram o bom cultivo).
O autoconhecimento nunca cessa, e sempre teremos espaço para ser mais e melhor e para fazer mais e melhor. Mas eu me alegro de ter me permitido ser eu mesma. Eu me amo e me aceito profunda e completamente. Não pensem que é uma fala simples de ser dita. Foi um longo percurso para chegar até aqui, e quem anda por estradas parecidas, na busca de si mesmo e da verdade, sabe bem o que estou dizendo.
E olha que inesperado, eu não vou terminar por agora. Espero uma vida bem longa, longa mesmo, para que eu possa ter a oportunidade de conhecer a Liana dessa nova fase. E ao que me parece, vou gostar dela. E sabe, eu sinto que talvez ela se comprometa em escrever mais sobre as coisas. Aquelas coisas cotidianas, as coisas da alma, as coisas do fazer e do ser, essas coisas todas.
Porque eu, até os 40, estive muito ocupada cumprindo as tarefas, construindo uma carreira, fazendo dinheiro – e gastando dinheiro (risos). Cuidando, criando. E desfrutando também, claro. Estive aqui preparando o terreno, criando as possibilidades... Quem sabe esse novo ciclo me permita fazer mais com os respiros ao longo do dia (sim, há um bom tempo eu tenho esses respiros). O que sei é que aos 20 eu não sabia como seriam os 30, e aos 30 eu não sabia como seriam os 40. A gente nunca sabe.
Se eu puder dar uma pista sobre como seguir com a vida, aí vai:
Concentre seus esforços em cuidar e olhar para si mesmo. Não por egoísmo, mas por altruísmo. Se você se ama, é capaz de amar o outro. Se você se aceita, é capaz de compreender e perdoar. Se lutou batalhas, sabe o quanto é pesada a guerra. Se venceu e se perdeu, sabe que a vida é feia exatamente disso. Quanto mais você trabalha em si mesmo, mais é capaz de dar ao outro – com qualidade. O inverso nunca acontece... E sobre o que está por vir... Sobre a ansiedade de não saber exatamente como será, ou sobre a dificuldade de caminhar no escuro... Talvez uma boa companhia como Jesus possa ajudar, e por fim, apenas ande, entregue e confie – um dia de cada vez - “porque o caminho só existe quando você passa”.
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